Fenômenos e Ameaças, entretenimento e turismo sob risco…

Artigo de: Camilo D’Ornellas

A era pós-moderna, trouxe uma série de mudanças radicais e velozes no contexto social, principalmente a mudança nos estilos de vida, as questões morais, crenças religiosas e a própria rotina das cidades multiculturais. As condutas humanas deste século variam sobre condições similares e motivações diversas, sendo evidente que nossas escolhas não são sempre amparadas por decisões conscientes e racionais.

O turismo moderno é influenciado por vários fatores dentre eles: financeiros, econômicos sociais e culturais. Os interesses especiais são motivadores e particularmente poderosos; entretanto, a demanda é essencialmente impulsionada em função dos níveis da renda da população condicionados pelos fatores de motivação e da segurança local do destino.

Quando alguém decide viajar, o processo decisório desenvolvido na mente do turista é um complexo de percepções, sonhos e realizações que na maioria das vezes é uma satisfação pessoal aliada ao sentimento.

Para o turista, o sucesso de sua viagem depende da qualidade dos serviços prestados por todos, se ocorrer falha em um desses empreendimentos, a experiência geral do turista será comprometida e o destino todo será prejudicado.

O entretenimento é definido e amparado na concepção de ser um estado psicológico e emocional de satisfação e felicidade, sendo um fenômeno multiplicador de negócios, gerador de fluxo de pessoas, visitantes e turistas, mas também capaz de alterar a dinâmica da economia de uma cidade, de um Estado ou País, pois esse negócio se apoia na relevância contemporânea de lazer e cultura.

A segurança das cidades e em especial das áreas turísticas, necessita estar apta a compreender às necessidades atuais complexas e as novas ameaças. Sociologicamente, é sabido que turistas e espectadores sofrem com níveis acima do normal de anomia e, muitas vezes, são “alvos fáceis” para o elemento criminoso e para situações não previsíveis de acordo com o experto em segurança turística Peter Tarlow.

O profissional de segurança turística ou do entretenimento, deve compreender que os impactos econômicos do turismo e dos eventos vão muito além dos componentes dessa indústria. Os sistemas de segurança nos destinos turísticos estão alicerçados não só na presença física de policiais com uniformes e armas especiais, mas também, que ele esteja preparado para mitigar as mais diversas situações de risco e crise.

Neste contexto, ele deve combinar elementos teóricos e práticos para o sucesso do patrulhamento nas áreas turísticas, sendo essencial o conceito global de safety security, a capacitação e treinamento sistematizados e contínuos.

As ameaças e as redes ilícitas na era pós-moderna.

Analisando os últimos acontecimentos envolvendo o terrorismo, os destinos turísticos e os eventos, este pode ser considerado como um fenômeno político, cuja finalidade é aniquilar ou atemorizar pessoas, cidades, economias inteiras, mediante violência física ou psíquica, podendo causar a morte de muitas pessoas inocentes ao mesmo tempo.

Nenhuma definição de terrorismo obteve aprovação universal. Segundo as leis norte-americanas (Código dos Estados Unidos), o termo pode ser definido das seguintes formas: Quando empregado sozinho, pode se referir à motivação política, cometida contra alvos não-combatentes por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, geralmente com o objetivo de influenciar o público.

No âmbito internacional, pode significar uma ação que envolva muitos cidadãos ou o território de mais de um país. Já o termo “grupo terrorista” significa qualquer grupo que pratique terrorismo internacional, ou tenha subgrupos significativos que pratiquem terrorismo internacional.

Na atualidade, existem cinco aspectos que o distinguem de épocas anteriores: o caráter transnacional; o embasamento religioso, nacionalista e a convergência com os crimes. Os terroristas suicidas (lobos solitários); a alta letalidade dos ataques; a orientação antiocidental e o interesse sobre destinos turísticos e os eventos, aumentaram o grau de complexidade das ações, sobretudo por parte dos grupos fundamentalistas islâmicos.

Existem novas dinâmicas operacionais das relações entre o terrorismo e os crimes transnacionais, que põe em risco e em alerta o mundo contemporâneo. A convergência entre o terrorismo e essas redes ilícitas transacionais como: o tráfico internacional de drogas, falsificação de produtos, trafico e trata de pessoas, são fatores que desestabilizam governos e as economias.

Elas operam nas sombras da política legal e oficial, sendo que as organizações ilícitas atingem níveis de investimentos comparáveis a algumas empresas nos investimentos em negócios, criando a chamada economia cinzenta. Os Estados estão cada vez mais enfraquecidos no combate a essas redes ilícitas, apesar do crescimento exponencial do conceito da cooperação entre estes ser uma atuação constante, o nexo causal entre crimes e o terrorismo.

Através do século presente, as relações entre o crime organizado e o terrorismo, estreitou e convergiu para uma estrutura criminal hierarquizada de negócios de armas, explosivos e treinamentos, numa combinação de colaboração e parceria entre ambos os casos.

O terrorismo passou a ser assunto discutido internacionalmente após o ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. O ataque, que matou milhares de civis e chocou o mundo, foi atribuído ao grupo Al Qaeda. Os atentados em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América, são o divisor de águas desse novo ciclo. Desde então, houve ataques às cidades de Madri, na Espanha; Bali, na Indonésia; Londres, França e agora por último na Inglaterra em Manchester.

Terrorismo nos destinos turísticos

Nos últimos anos os principais resorts turísticos da Espanha e da França foram colocados em estado de alerta máximo para atentados terroristas. Existe uma ameaça permanente de terrorismo na Europa, várias cidades europeias, em especial Londres, Madrid e Paris são alvos constantes, mas outras cidades menos importantes já entraram na rota de ataques como aconteceu em Nice na França e agora mais recente em Manchester, Reino Unido. A metodologia empregada, a estratégia e os meios utilizados são variados e imprevisíveis. Existem hoje em dia recursos mais poderosos e de acesso mais fácil do que os utilizados no passado, sendo a internet um dos principais veículos de comunicação.

As variantes suicidas dos terroristas e o possível uso de armas de destruição em massa mostram o quão vulneráveis são as cidades e seus cidadãos, como foi o caso de Nice na França em 14 de julho de 2016, data simbólica para os franceses.

O terrorista tem como alvo os transportes públicos, pontos turísticos e icônicos, pois são lugares de grande concentração de pessoas. Ataques planejados aos eventos estão na mira deles, desestabilizar economicamente, emocionalmente, bem como afetar o sistema de redes e destruir a reputação é um dos objetivos.

No Reino Unido assim como aqui no Brasil, a segurança privada é a responsável pelos eventos em geral, tantos os indoors quanto outdoors. Analisando os acontecimentos na Arena Manchester em UK, principalmente no que tange aos aspectos técnicos de crowd management, percebe-se uma dissociação preocupante entre o safety e o security. Nota-se nas imagens que não havia um plano pré-ajustado para evasão inopinada por quaisquer razões nem tampouco pelo estrondo de uma bomba real. O posicionamento dos “seguranças” como atestam as imagens estão em desconformidade, eles simplesmente ficaram sem ação e atônitos.

Outras imagens são claras em informar que a fuga das pessoas e na maioria jovens, não obedeceu a nenhum critério técnico e a nenhuma orientação por parte dos stewards, as pessoas pulavam as grades e as barricadas sem ao menos saberem para onde apontava o perigo e se estavam na direção correta.

O terrorista entrou numa área destinada aos espectadores sem nenhuma revista ou que pelo o menos alguém da segurança o contivesse por acessar uma área não era permitida. Normalmente as pessoas mais afoitas e que não querem sair no tumulto do final do espetáculo, saem antes da hora do termino e foi nesse exato momento que ele se aproveitou da fragilidade da segurança e acessou ao local.

Ao nosso ver, a falha ocorreu exatamente neste instante de distração da equipe de segurança, pois deveriam manter-se postados na saída tal qual a entrada e usando dos mesmos procedimentos e protocolos para obstaculizar qualquer ameaça ao evento.

O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo atentado a Arena de Manchester no show da cantora Ariana Grande, vinte e duas pessoas morreram e outras 50 ficaram gravemente feridas.

As grandes multidões combinadas com eventos altamente publicitados podem transformar esses eventos em tragédias. Eles procuram alvos que ofereçam possibilidades para mortes em massa, para “boas imagens, para causar um grande dano econômico, destruir um ícone ou uma grande celebração dos esportes e dos festivais de música, onde pessoas se reúnam e sempre estão despreocupadas e felizes.

Camilo D’Ornellas

Especialista em Segurança Turística e de Grandes Eventos

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